Quando o Rei decide visitar nosso silêncio

Quem nunca experimentou um tempo de silêncio na vida? Quem nunca pensou que Deus silenciou?

A bíblia nos traz uma história em I Reis 17: 7-24 sobre uma mulher que vivia no meio de um povo, Israel, que antes tinha um Rei justo, bom e poderoso: Deus, mas no momento o rei, a terra e o povo estavam corrompidos. Uma mulher nessa situação poderia estar com sentimentos como angústia, tristeza, desesperança, medo, incertezas e outros.

Olhando pra dentro de si, tudo estava complicado e olhando à sua volta as circunstâncias não favoreciam: não tinha uma família grande, não tinha quem a ajudasse, havia perdido o marido, não tinha um bom rei, não tinha uma terra farta, não tinha muito azeite, não tinha muita farinha, não tinha muita água. Ela não tinha, ela não tinha, ela não tinha…

O que ela tinha mesmo eram todos os motivos para estar triste, estar em silêncio e para pensar que Deus havia se silenciado em relação a ela.

Será que o que nos amarra, nos trunca é aquilo que nos falta? Seria mesmo o sermos supridas nas nossas necessidades que nos traria felicidade? Talvez estejamos esperando que uma mudança nas circunstâncias, o preenchimento de uma falta, uma mudança nas pessoas a nossa volta, traga mudança para a nossa vida, nos preencha, nos alegre.

Aí começamos a pensar: quando meu marido mudar, quando meus filhos obedecerem, quando eu for curada, quando eu pagar aquela dívida, quando eu comprar aquele carro, quando eu tiver aquela resposta, quando eu tiver a conta coberta, quando, quando, quando…aí eu serei feliz, aí tudo estará bem, aí eu serei uma mulher realizada. Mas será!!?

Se pensarmos naquela mulher, no que ela tinha e no que faltava a ela, vamos entender um pouco como Deus trabalha.

Deus não enviou a ela o que supostamente lhe faltava, Ele não acrescentou à vida dela outros elementos. Ele não perguntou o que ela não tinha ou o que lhe faltava, Ele perguntou sim pelo que ela tinha e com o que ela tinha, Ele trabalhou.

Temos a tendência de olhar sempre o que nos falta, o que gostaríamos de alcançar, o que projetamos ser. Sofremos com a nossa insuficiência ou incompletude, ficamos pensando no que desejamos e ainda não alcançamos. O que temos faz parte da nossa história e é com isso que Deus trabalha e transforma em ferramentas.  Ferramentas que podem suprir, gerar, trazer vida.

Havia silêncio na casa daquela mulher, havia silêncio de Deus naquela terra. A chuva tinha cessado, não havia flores, não havia frutos, não havia folhas. Havia silêncio….

E a sua realidade?  Que tipo de terra você habita? Que casa é a sua? Se Deus enviasse hoje um profeta para sua cidade, que casa Ele escolheria para visitar? 

Quando preparamos a casa para alguém, para recebermos uma visita queremos sempre oferecer o melhor, preparamos tudo, queremos sempre ter para oferecer, não suportamos a ideia da falta. Mas Deus não trabalha como nós, Ele não pensa como nós. Ele não anda segundo nossas expectativas, Ele nos surpreende.

Deus não deixa de chamar alguém ou de visitar alguém que se encontra numa terra corrompida, cujo rei serve a Baal e adora ídolos. As decisões de Deus não dependem das maquinações, faltas ou excessos humanos. Ele é soberano. Ele é Senhor, e estabelece seu desejo ainda que a terra adore a outro deus. Deus está sempre presente no nosso mundo, nós é que muitas vezes não estamos presentes no mundo de Deus, não o conhecemos suficientemente.

O Supridor escolheu visitar aquela casa, aquele silêncio… aquela falta…

A nós cabe termos um olhar atento ao que temos e saber lidar com isso. E como lidamos com o que temos? Não importa o que seja, pode ser azeite, farinha, água, gravetos, um filho, uma casa. O que importa é se o que temos constitui-se em ferramentas ou em ídolos.

Seria a nossa mulher uma mulher apegada? Seria ela uma mulher idólatra? Apego no sentido de dependência exagerada, de colocar aquele valor, aquela pessoa em primeiro lugar. Apego fala de idolatria, de situações, relações, objetos que agarramos para nos proteger, para nos dar segurança.

O apego nos oculta da presença de Deus, porque aquilo a que nos apegamos e que trazemos aqui junto a nós, se coloca entre nós e o nosso Deus. Apegar-se a algo significa acreditarmos que damos conta das nossas questões sozinhas, que nos viramos com o que temos, com nossos ídolos.

Aquela mulher poderia ter dito: não! Isso é a minha vida, é tudo o que tenho, eu não vou te entregar! Mas ela não me pareceu ser idólatra. Ela se abriu ao novo, ao desconhecido, ela se entregou e em consequência ela teve abundância.

No livro “Maravilhosa Bíblia”, Eugene Peterson diz: “… o que proporciona abundância não é a aquisição de um monte de coisas aqui e ali, mas é o aprofundamento do que já possuímos.”

Quais são as nossas idolatrias? Já as des-cobrimos? Como isso acontece? É no Encontro. O encontro com a Palavra, com o Deus da Palavra, com o Deus que É, aquele que traz som ao nosso silêncio. Os encontros nos capacitam a conseguir muito mais do que conseguimos na solidão. Na presença d’Ele, da Luz, nossas idolatrias são reveladas, experimentamos o des-apego, a abertura de mão daquilo que pode estar se constituindo em ídolo para nós. E assim nos submetemos. É e na submissão à autoridade d’Ele que somos livres das nossas idolatrias e o nosso silêncio pode ser rompido.

Aquela mulher, ao abrir mão do que era seu, ao esvaziar-se, ao entregar-se, conheceu a intimidade, a visita, a presença, a intervenção do Deus antes desconhecido, mas agora provado, experimentado e que ela agora reconhecia como seu Deus – A Verdade revelando a minha verdade e me dando voz: “Agora sei que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor vinda da sua boca é a verdade”.

Marisa Duarte

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